"Todos
os faunos são tristes e sua maior tristeza consiste
em
tentar esconder dos outros sua tristeza"
Autor
Desconhecido
Deus
está morto. Foi ouvido por toda hélade antiga e espalhada a noticia: O grande
Deus Pan está morto. São cada vez mais escuros os dias que antecedem o inicio
do inverno — eu ainda te amo —, e eu estou sentado à frente deste computador
escrevendo sobre memórias de deuses mortos e das partes escuras de mim, os
fantasmas que são meus.
Está
não é a resposta de nenhuma carta, todas as palavras que poderiam ter sido ditas
se perderem entre as embarcações que anunciavam que o deus morreu durante o
Samhain; muita coisa morre depois do dia de todos os santos. E quando a última
vela do dia de finados se apaga, os homens vivos recolhem as cinzas e a cera
derretida e recolhem-se em cinzas e derretimento.
Eu
nasci em um destes dias escuros, na véspera de uma lua cheia, numa quinta feira
em um signo regido pelo rei de todos os deuses, e dos inúmeros raios que isto
trouxe em minha vida, eu que nasci três dias antes da noite mais longa noite do
ano, nasci esperando o inverno chegar, o sol nascer novamente.
Há
pouco que alguém possa ter vivido aos vinte e cinco e eu me sinto como se
carregasse uma dezena de vidas comigo; eu ainda sou o jovem quase morto aos
dezesseis que velava o seu primeiro amor, sua décima paixão? Ou eu sou aquele
que segurava as pontas de um suicida que havia tentado destruir sua vida? Eu
ainda trago comigo o jovem cheio de vida que dançava intensamente, que se
apaixonava como o universo se movia? Lentamente e com força.
Ou
estas pessoas morreram em mim, naquele fim de tarde numa ponte, quando nos
beijamos pela última vez sem nos darmos conta? A minha vida é tão curta e eu
trago comigo tantos fantasmas. A criança cuja inocência foi arrancada, o
adolescente perdido da balada, o adulto com um copo de café na mão escrevendo
estas palavras.
Sinto-me
um destes astecas sacrificando virgens para que o sol nasça de novo, mas se o
Grande Deus Pan está morto, o que me resta a não ser cuidar para que ele
renasça? Para que o sol cuja luz morreu na véspera de todos os santos, renasça
novamente ao terceiro dia após o dia que nasci?
Eu
estou apaixonado, mas é preciso viver. É preciso caminhar para ver o sol e não
há esperança que nasça sem sacrifício. Eu estou morrendo, mas é necessário
viver, pois a vida não para e os deuses não esperam, eles gritam do alto do
monte que a morte é necessária para que haja, no fim da noite mais fria, um
novo alvorecer.
A
escolha é minha, no fundo sempre foi, se devo matar meus fantasmas ou a mim.
O
Grande Deus Pan não está morto, deuses apenas dormem porque sabem que tudo
aquilo que morre renasce renovado, diferente de si, mas ainda o mesmo. O Grande
Deus Pan vive e reina, dentro de mim, na esperança que eu ainda mantenho — e
sustento— de que dias mais claros virão.
Thiago
F.
Ano
I da era do corvo
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