"O único jeito de morrer é perder a fé
em si mesmo"
Dali a algumas horas o sol nasceria. Banhando de luz a cidade sagrada. Uma ou duas bombas explodiam em algum lugar do ao leste. Algo habitual aos ouvidos daquele homem.
Retesou os músculos novamente. Benjamin queria mais era ver o astro rei tingir o céu com suas cores vivas. Estava cansado da monocromática essência da noite, o preto do céu e o prata das estrelas o incomodava. Estava cansado das horas de escuridão que já duravam séculos.
O dia nunca vinha e talvez nunca viesse.
A fome o irritava, alias tudo ali o irritava. Porque não ia ao Brasil? Porque não viajava a uma terra onde podia esquecer as diferenças entre mulçumanos e judeus? Eram tantos porquês que nunca se acabavam.
A cidade sagrada estava linda como sempre estivera. Templos e mais templos erguidos para trazer gloria ao nome de Deus, mas onde esse Ser Supremo estava? Não via a guerra em sua terra ou aquele ser profano caminhando pelas ruas santas?
Há muito aquele homem não pensava novamente no criador. Como poderia? Depois de caminhar sorvendo o liquido da vida por tanto tempo se perde a fé a tal ponto que a fé pode machucá-lo.
O símbolo em sua mão confirmava isso. As seis pontas entrelaçadas da estrela de Davi. A marca que lhe fora infligida por uma judia ao tentar escapar da morte certa.
Junto à estrela de Davi nas costas de sua mão estavam tatuadas as palavras de um Ancião quando soube da história. “Não é Deus que nos fere é a fé dos humanos em seus símbolos”.
Benjamin compartilhava desde então dessa idéia. Talvez Deus não o visse como um ser abominável. Talvez o que o ferira não foi realmente Yaveh e sim a fé daquela mulher emanada através daquele símbolo. A esperança humana que lembrou sua carne da esperança que ele mesmo perdera.
Continuou andando pelas ruas, ainda incomodado pela fome. Quanto mais iria agüentar? Quanto tempo ainda faltava para o sol despontar no horizonte?
Uma moça ocidental caminhava pelas ruas de Jerusalém. Estava despreocupada apesar da crescente violência na região. Estava despreocupada demais para perceber o homem alto que a devorava com os olhos.
O homem que a esperava para desfrutá-la com seus dentes pontiagudos.
Com a elegância e graça de um vampiro Benjamin aproximou-se. Não queria assustar a moça e queria ver se ela adquirira algum artefato judeu em sua viagem de férias. Por algum motivo os símbolos sagrados só afetavam o vampiro quando o mesmo havia acreditado neles em vida. Precisava verificar, afinal não queria outra marca.
Com seus braços fortes e resolutos ele tomou-a para si. Deliciava-se do sangue farto que corria das veias dela para as suas. Por um momento toda a dor e divagação por Deus sumiram. Só havia o sangue e para um vampiro o sangue é o único Deus.
Mas até mesmo Deus tem um inimigo e o inimigo do sangue vampirico era o sol.
O pouco de humanidade em Benjamin queria ver a luz do dia e sentia a eminência de descobrir o que vinha após o amanhecer, mas o seu corpo não obedeceu.
Não importa o quanto você lute contra isso. No final, o vampiro em você sempre vence.
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