¥ Crônicas dos Deuses ¥
Parte I
Os Deuses que hoje somos
O cheiro de chuva impregnava a atmosfera. Constantemente esse é um sinal de coisas amenas chegando, mas não naquele dia. Naquele dia os imortais silenciaram, pois conheciam o que esta chuva em especial significava: Ele acordou, Eles estão chegando.
No Toyota preto, duas criaturas dividiam o banco de trás. Ambos trajados de negro, não se olhavam. A fêmea loura observava a paisagem com desdém. Por detrás de seus óculos escuros se escondiam um belo par de olhos dourados. Lara, a segunda, era tradicional demais para dirigir a palavra a alguém como Chris.
Se um humano algum dia reconhecer um deus, certamente não teria muito tempo de vida, excetuando se esse imortal for Chris, o terceiro. Com seus longos cabelos castanhos encaracolados, seus traços humanos e seus olhos acinzentados, ele sempre fora um dos imortais que mais fácil se confundiria com os mortais e, talvez por conta disso, sempre foi aquele que mais fácil contaria segredos e lendas de sua raça.
O motorista era um homem de meia idade. Não fazia idéia de para quem realmente dirigia. Magnatas do mundo dos videogames? Não! A origem de toda a vida existente. Desconhecia as lendas e não percebia o perigo que estava por correr. Um dos mais temidos dos deuses despertara de um sono profundo e Ele queria vingança. A vingança de ter sido traído pelos seus próprios irmãos de raça e pelo seu irmão de alma.
Os deuses, com suas hierarquias e poderes, se tratavam pela ordem em que nasceram da Grande Consciência Universal e, por algum motivo os primogênitos nasceram ambos degenerados.
Chris conhecera um dos gêmeos. Exatamente o que permanecera acordado: Thalles. Os primogênitos foram os únicos que nasceram em par. As duas almas mais poderosas do universo. Eternamente fadadas a serem idênticas e inimigas. Mas os dois não apareciam há muito tempo. Antes mesmo de o homem pisar sob o pó que era. Henrique, o adormecido, fora amaldiçoado a dormir eternamente como castigo de seus atos profanos e Thalles, o primogênito, partira em direção a uma vida anônima.
Agora, o adormecido despertara e com Ele as antigas lendas. Era o fim da raça divina. Os oito deuses primordiais iriam ser esmagados pela ganância do maior deles. A vingança de Henrique só poderia ser aplacada por um ser igualmente poderoso: seu próprio irmão, mas o primogênito estava desaparecido a tantos milênios que acha-lo seria tão difícil quanto matar um deus.
Era um tempo de guerra e a chuva predizia isso. Chris sabia no que estava se metendo, fora um general na primeira guerra contra Henrique, mas jamais o vira de fato. Tinha medo, muito medo, pois quando se é um deus, deixar de existir está completamente fora de cogitação. A dor eterna parecia-lhe o castigo mais simples.
O carro parou e os criadores desceram.
Os cabelos de Lara balançavam presos em um rabo de cavalo. Lembravam um relógio há marcar o tempo que restava e restava tão pouco tempo.
– A tempestade está chegando. – O macho quebrou o silêncio brutal entre a dupla.
– É.
A mulher não se deteve a conversar. Queria terminar com aquilo o mais depressa possível. Quanto mais rápido Eles descobrissem uma forma de vencer o adormecido, que agora estava desperto, melhor. Não estava nem um pouco feliz em rever seus irmãos.
A família divina certamente não era nem um pouco unida.
Sentados em suas cadeiras os demais esperavam a dupla que tanto se atrasara. Será que eles não percebiam a iminente ameaça no despertar de Henrique?
O que haveria de acontecer com o mundo depois que um dos primogênitos ousasse destruir os seus seis irmãos presentes na humanidade? Apareceria Thalles finalmente para derrotar o irmão que ele adormecera durante tantos milênios?
– Temos que enfiar uma faca de prata no coração dele! – Exclamou Felices, o sexto.
– Ele não é um vampiro seu idiota! Todos aqui já presenciamos o que Ele é capaz de fazer. Nem mesmo Lara e Chris que são os maiores nessa sala têm poder para destruir um ser como aquele! Apenas Thalles tem! – O quarto já dava sua opinião.
– È, mas não se esqueça que é exatamente por causa de Lara e Chris que o primogênito jamais irá nos ajudar. Ou em sua mente ancestral você já deu ouvido às lendas mortais?
– Silencio! – vociferou Lara.
E o silencio absoluto se fez entre os imortais. A segunda estudou as expressões deles. Existia ali apenas medo e apreensão, mas quem era ela para julgá-los? Ali na sua frente estava à origem de tudo que existia. Os seus irmãos e irmãs de raça. Sentados naquelas cadeiras estavam o mar, os ventos, a terra e tantas outras forças motrizes. Quem era ela, a luz, para decidir o que é certo? Se ela ou Chris morressem, nada haveria de muito grave acontecer, mas eles... o que seria do mundo sem os elementos que o tornam existente?
A tempestade chegava cada vez mais perto trazendo o poder junto com ela. Henrique despertara de seu sono profundo e eterno.
E se a eternidade do sono de Henrique se expirara. Então talvez a vida eterna dos deuses fosse também efêmera. Os deuses estavam prontos para morrer apenas, pois a esperança não pode existir em corações que não batem.
Deuses não devem morrer, deuses não morrem! Gritava Lara em seus pensamentos mais intensos.
Mas a tempestade se aproximava ... E com ela o fim de tudo!
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