quarta-feira, 7 de março de 2012

A Pitoniza




¥ Crônicas dos Deuses ¥
Parte II 
A pitonisa


Não, não é o fim do mundo. Não é mais uma daquelas predições escatológicas. É apenas o fim daqueles que merecem deixar de existir pelo que fizeram. E a sensação ruim é apenas o medo eminente de deixar de existir. Um medo tolo.
Ao caminhar rumo ao shopping era isso o que o rapaz pensava. Não tinha pressa, possuía todo o tempo do mundo. O cheiro da chuva que ainda estava por vir impregnava suas narinas. Henrique estava perto.
Não demorou muito a chegar ao shopping. Ganhara os corredores em busca da cartomante da feira mística. Queria resposta e sabia que apenas aquela mulher daria as respostas certas.
Ao chegar muitas pessoas da fila notaram o rapaz estranhamente vestido. Seu sobretudo negro era ricamente decorado com traços vermelhos que se assimilavam a letras de um idioma a muito esquecido. Seus olhos estavam encobertos por um óculos violáceo, o que causava mais a estranheza das pessoas, afinal, era de noite.
Era baixo, aproximadamente 1,65, mas ainda assim possuía um tom altivo. Seu cabelo liso trepidava junto ao seu traje e isso dava um ar ainda mais mágico ao ser ali parado. Por fim, como se fosse para dizer “eu sou a mágica em pessoa”, um colar de ouro prendia um pingente de uma pedra violeta que brilhava insistente.
A paz serena de sua expressão não mudou em meia hora de espera. Queria respostas e esperaria ali mil anos se fosse preciso, mas não possuía tanto tempo assim. Além disso, não iria precisar esperar muito. Sua vez chegara.
O cheiro de incenso e vela o deixou nostálgico. Isso o fazia lembrar dos tempos antigos e dos templos ancestrais os quais estivera na sua longa vida. Vivera por tanto tempo, mas apesar disso... estava preparado para morrer?
– Sente-se. – A mulher ruiva o indicava o assento ao passo que com suas mãos ligeiras ela embaralhava as cartas de tarô.
Não houve perguntas. O rapaz já conhecia o esquema. Esperaria pelas respostas e, de acordo com elas, escolheria seu caminho.
– Escolha uma metade. – A cartomante quebrou o silêncio ao dividir o baralho ao meio.
Prontamente o rapaz escolheu o direito.
Mãos ligeiras guiavam as cartas ao seu caminho. Uma, duas, três. A imagem do destino estava feita ali em sua frente: O Carro, A Lua, O Mago.
– Você partirá hoje em uma batalha. A partir daí muitos segredos irão se desenrolar até você encontrar seu objetivo. Acima de tudo, você está correndo em uma batalha contra si mesmo.
– E em que lado eu devo entrar?
– Você sabe quem você é. Então deve saber contra quem lutar.
O rapaz levantou-se sorridente. Sempre soubera a resposta, mas agora tinha a certeza advinda de uma consulta ao oráculo. Aquela mulher podia não saber, mas realmente possuía o dom de ver o futuro.
– Eu sei o que você é. – A mulher deteve o rapaz antes que este saísse da tenda.
– Eu sei que sabe. Se não soubesse eu não estaria aqui.
– Um grande deus morrerá, mas eu não posso ver quem é. Se é o caos ou o equilíbrio, apenas vocês dois podem decidir Thalles, apenas vocês dois.
Thalles sorriu. Era o deus do equilíbrio, o primogênito e sabia que àquela hora chegaria algum dia. Não podem existir dois senhores de uma mesma força. Não podem existir dois deuses primogênitos. Havia atrasado o confronto final, mas não podia mais. Dez mil anos se passaram e nem um minuto a mais passaria.
A escolha já estava feita e só havia um caminho a ser seguido.
Rumo à chuva, repetia mentalmente Thalles.
Rumo à chuva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário