quinta-feira, 17 de maio de 2012

Discórdia

¥ Crônicas dos Deuses ¥
Parte III
Discórdia



– Vá, ataque. Destrua todos eles Henrique. Você é o grande Deus do caos supremo. Derrote seu irmão. Agora. – Usando de sua sedutora voz espaçada, a mulher trajada de vermelho tentava convencer o irmão Gêmeo de Thalles a atacar.
Henrique não se demoveu. Seu sereno rosto continha toda a calma de alguém que tinha a eternidade para tomar uma decisão. Porque ouvir a voz daquela mulher? Ela não havia sido a responsável por libertá-lo. A Discórdia nem existia quando ele adormeceu.
– Existe pressa em suas palavras Discórdia. Porque eu iria ouvi-la? Sou o Deus do caos em meio ao reino do equilíbrio. Há calma em meus passos para que meu reino perdure. Todas as coisas feitas na pressa de um campo de batalha, todos os desejos perseguidos com gana, fenecem cedo.
– Mas há essa altura seu irmão já deve estar chegando. Ele trará mil exércitos. Ele destruirá seus intentos. Todos os deuses contra ti. Todos os deuses contra ti.
– Conheço Thalles melhor que você. Sou parte dele e como ele, penso. Ele virá, disso não há duvida, mas chegará sozinho e assim irá permanecer. Meu irmão é uma alma solitária. Um único ponto equilibra a gangorra da vida e este único ponto sempre estará sozinho.
– Mas...
– Mas nada! Agora vá. Vá embora demônio.
Discórdia não aceitava o modo como era tratada. Por séculos os deuses menores foram subjugados por senhores como aquele. Agora havia uma chance de acabar com isso, mas como aturar as manias daquela criança arrogante?
Calma, calma. Repetia a si mesma. Não adiantava por tudo a perder por orgulho. Sua missão era clara: provocar a guerra entre os primogênitos. Não podia falhar, lhe prometeram grande poder e fortuna caso ambos morressem.
E se acaso um sobrevivesse... Bem, ela poderia matar o outro. Na chuva ninguém percebe as forças que se movimentam.
Acima de sua cabeça as pesadas nuvens de chuva se acumulavam. A grande batalha estava sendo anunciada pelos céus. Thalles estava perto, muito perto.
“A chuva” era o mais poderoso poder já criado pelos deuses. Discórdia não entendia bem como ela era formada ou quem a trazia, mas conhecia a lenda: as águas trazem promessas de uma nova existência. Prenuncio de guerra.
Avise-o, agora, O Primogênito caminha em direção a vocês. A voz invadia sua mente. O seu mestre lhe dava ordens através daquela voz difusa. Talvez nem Henrique soubesse quem era seu benfeitor. Aquele que o libertou do sono eterno.
A morena apenas entrou novamente no apartamento.
– Seu irmão está...
– Chegando, chegando. Eu sei.
– Como você sabe?
– Ele trás a chuva. Ele é a chuva quando quer.
O Gêmeo de Thalles apenas se levantou sem dizer mais nada. Embainhou sua espada junto a si e caminhou em direção a janela entreaberta
– Aonde você vai?
– Ser a chuva. – E se atirou.

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