¥ Crônicas dos Deuses ¥
Parte III
Discórdia
–
Vá, ataque. Destrua todos eles Henrique. Você é o grande Deus do caos
supremo. Derrote seu irmão. Agora. – Usando de sua sedutora voz
espaçada, a mulher trajada de vermelho tentava convencer o irmão Gêmeo
de Thalles a atacar.
Henrique
não se demoveu. Seu sereno rosto continha toda a calma de alguém que
tinha a eternidade para tomar uma decisão. Porque ouvir a voz daquela
mulher? Ela não havia sido a responsável por libertá-lo. A Discórdia nem
existia quando ele adormeceu.
–
Existe pressa em suas palavras Discórdia. Porque eu iria ouvi-la? Sou o
Deus do caos em meio ao reino do equilíbrio. Há calma em meus passos
para que meu reino perdure. Todas as coisas feitas na pressa de um campo
de batalha, todos os desejos perseguidos com gana, fenecem cedo.
–
Mas há essa altura seu irmão já deve estar chegando. Ele trará mil
exércitos. Ele destruirá seus intentos. Todos os deuses contra ti. Todos
os deuses contra ti.
–
Conheço Thalles melhor que você. Sou parte dele e como ele, penso. Ele
virá, disso não há duvida, mas chegará sozinho e assim irá permanecer.
Meu irmão é uma alma solitária. Um único ponto equilibra a gangorra da
vida e este único ponto sempre estará sozinho.
– Mas...
– Mas nada! Agora vá. Vá embora demônio.
Discórdia
não aceitava o modo como era tratada. Por séculos os deuses menores
foram subjugados por senhores como aquele. Agora havia uma chance de
acabar com isso, mas como aturar as manias daquela criança arrogante?
Calma,
calma. Repetia a si mesma. Não adiantava por tudo a perder por orgulho.
Sua missão era clara: provocar a guerra entre os primogênitos. Não
podia falhar, lhe prometeram grande poder e fortuna caso ambos
morressem.
E se acaso um sobrevivesse... Bem, ela poderia matar o outro. Na chuva ninguém percebe as forças que se movimentam.
Acima
de sua cabeça as pesadas nuvens de chuva se acumulavam. A grande
batalha estava sendo anunciada pelos céus. Thalles estava perto, muito
perto.
“A
chuva” era o mais poderoso poder já criado pelos deuses. Discórdia não
entendia bem como ela era formada ou quem a trazia, mas conhecia a
lenda: as águas trazem promessas de uma nova existência. Prenuncio de
guerra.
Avise-o, agora, O Primogênito caminha em direção a vocês. A
voz invadia sua mente. O seu mestre lhe dava ordens através daquela voz
difusa. Talvez nem Henrique soubesse quem era seu benfeitor. Aquele que
o libertou do sono eterno.
A morena apenas entrou novamente no apartamento.
– Seu irmão está...
– Chegando, chegando. Eu sei.
– Como você sabe?
– Ele trás a chuva. Ele é a chuva quando quer.
O
Gêmeo de Thalles apenas se levantou sem dizer mais nada. Embainhou sua
espada junto a si e caminhou em direção a janela entreaberta
– Aonde você vai?
– Ser a chuva. – E se atirou.
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