quinta-feira, 17 de maio de 2012

Tertuniel

Tertuniel

– Tertuniel, conte-me um segredo. Como falam as estrelas?
– Há tanto a dizer minha criança. Elas gritam nomes, seus nomes. Os nomes dos humanos que as criaram, seus significados.
Elas cantarolam para nós que podemos ouvi-las. Dançam também, mas ninguém pode vê-las no seu bailar chamado destino. São índias essas feiticeiras, gritam e pedem ao clamor dos céus, batendo nesse imenso disco iluminado de São Jorge.
– A lua?
– Sim, a lua. Frenéticas, elas pedem auxilio aos anjos. Precisam de nós para executar seus desejos, para articular seus amores. As estrelas são o intermédio do homem e o céu.
Quando conseguem o que querem, elas se jogam lá do alto. Precisam renascer de novo. Milhares e milhares de vezes em forma humana. Geralmente passam a vida em busca de realizar o pedido que alguém fez quando as viu cair.
– Me parece uma vida triste.
– Toda vida iluminada é triste. Veja como são todas elas. Solitárias, belas. Velhas e novas matronas que fofocam entre si e conosco. Nunca perdem esse habito, nunca perderão.
– Mas as estrelas morrem.
– Todas as coisas morrem. É o destino universal. Deixar de existir para dar lugar à outra centena de coisas. Ninguém morre realmente, apenas é transformado em outras coisas ao longo da existência. Você é feito de uma estrela que morreu a muitos, muitos anos. Poeira de estrelas... Como todos os humanos.
– Eu não sou especial?
– Cada um é especial ao seu modo, para alguém. Você é especial para mim, espero que isso lhe baste.
– Sim, me basta, mas me fale mais sobre as estrelas. Elas ainda falam com você desde que... não sei como dizer isso.
– Desde que eu cai. Sim, ainda falam. Elas nunca perdem essa mania, eu já disse isso.
– Você é mesmo um anjo?
– Sim, sou. Se preferir me chamar assim.
– E porque você... caiu?
– Porque eu cometi um pecado.
– ...
– Eu me apaixonei.
– ...
– Por você.

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