sábado, 9 de junho de 2012

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ѪMutantes UniversitáriosѪ
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– #FFFFFF. – O paciente repetia cego pela intensidade da luz no corredor. – Branco, eu não gosto dessa cor, ela dói nos meus olhos e contrasta demais com o preto da farda de vocês. #000000. – sorriu levianamente, como se toda aquela cena fosse uma piada. – Não que eu me importe com isso, é claro.
Ninguém mais sorriu. Não havia graça para nenhum dos militares em escoltar um louco a sua provável última sessão de psiquiatria. Um louco excepcionalmente talentoso, claro, um hacker que invadira o sistema mais secreto do governo como se fosse um simples joguinho para passar o tempo. O prisioneiro de prioridade máxima, mas ainda assim um louco que pouco oferecia perigo de escapar. Ninguém conseguiria escapar daquela prisão.
– Paciente 0988. – Falou o inexpressivo psiquiatra da Nirvana, a força de operações secretas do governo. – Entre. Seja bem vindo ao meu consultório. Essa é sua primeira vez aqui não é? Nunca te deixaram subir até o nível - 17.
– Essa é a minha primeira e única vez aqui, doutor. Afinal, só me deixaram subir porque eu apresentei uma melhora considerável, na verdade, essa sessão especial nem deveria estar havendo, mas você achou melhor que ela existisse porque queria ter certeza de que eu estava curado do meu mal.
– Fico feliz de saber que você entende perfeitamente o motivo dessa sessão. – Ele estava mentindo. Por detrás de sua típica inexpressão havia um esgar de medo, como ele podia saber informações desse tipo? Deveria haver alguma falha na segurança, a situação clinica do prisioneiro era uma informação sigilosa, nem o próprio 0988 deveria saber que estava prestes a receber alta. – Bem, senhor 0988, estou de posse do seu prontuário original.
– Me chame de F. Afinal não vamos nos ver de novo.
– Veremos. Isso quem decide sou eu. – o médico pigarreou nervosamente enquanto lia o prontuário fingindo atenção. – Quando começamos o seu tratamento, você apresentava traços de esquizofrenia, megalomania e possuía uma personalidade maníaco-depressiva deveras psicótica. Fico feliz em saber que contribui para sua intensa melhora.
– Você não deveria estar me dizendo isso como médico, Doutor Kant. Esse seu modo de falar não é um tanto antiético? Portanto, devo supor que você não está falando comigo sob o rótulo de médico e eu... eu vou falar com você como F. e não como o paciente 0988.
– Escute aqui. Sem a minha assinatura você nunca vai ascender ao nível – 20, junto com os outros prisioneiros de segurança máxima. Então pare de me interromper, 0988.
– Você está errado, duplamente errado, eu diria. Primeiro, porque eu não vou precisar de sua assinatura, ela me é desnecessária. O nível – 33 é tão bom quanto o -20, eu diria. Segundo, eu de fato sou megalômano e possuo uma personalidade maníaco-depressiva psicótica, porém não sou esquizofrênico, de forma alguma. Minha percepção da realidade não é movida por enganos da minha mente. A sua é que é limitada.
– Acho que você não me entendeu! – alterado o médico fuzilava o paciente com o olhar, quebrando sua inexpressão. – Se continuar agindo desse jeito você jamais irá receber alta.
– Eu não espero que você compreenda. A compreensão requer o entendimento da totalidade dos fatos. – sorriu como se brincasse com a raiva ostentada no rosto do médico. – Os fatos são a expressão singular daquilo que vocês chamam destino, uma serie seqüencial de expressões numéricas que definem o programa, vida. Não posso esperar que você compreenda nem mesmo isso, seu software é limitado.
– O que você está querendo dizer?
– Não estou culpando você. A culpa é de Deus, o programador do sistema, que vocês comumente chamam de realidade. Não creio que isso seja real, os números, os números são reais, mas até mesmo as expressões mais simples e suas conseqüências são ilusões. A não ser que você considere programas de computador como sendo reais.
– Você não está tomando seus remédios regularmente, presumo.
– Doutor, doutor. Não percebe, você me trazer aqui é parte um todo maior, infelizmente um todo em que eu tive pouca participação até agora, porque os remédios inibiam muito dos meus poderes e ainda agora eles estão um pouco limitados, mesmo que eu não os tenha tomado hoje. Mas aqui, eu tenho um alcance espetacular. – F. explodiu em gargalhada. – Eu creio que você não saiba que este é um dos únicos andares inferiores em que a rede se conecta com a central. Claro que você não tem acesso a essa rede, afinal você é apenas um subalterno.
– Eu vou chamar os guardas.
– Não, você não vai. Porque a acústica dessa sala é projetada para ninguém que está lá fora ouvir o que é dito aqui dentro. Portanto, não adianta gritar. O botão que aciona a emergência é controlado por computador, assim como a porta, eu controlo o computador, portanto, você está tão preso nessa sala quanto eu estou nessa realidade.
– Você não pode controlar o computador. Você não pode fazer isso sem ao menos ter algum computador ligado ao sistema e não há nenhum nessa sala, mesmo que houvesse, você não poderia mexer nele ai sentado. – mas era um fato, o botão não respondia ao comando.
– Claro que eu posso, porque eu posso controlar toda a tecnologia com o poder da minha mente. E também sou capaz de moldar certos aspectos da realidade através da mudança dos cálculos do destino. Mas eu também sou limitado, meu hardware está preso a essa realidade e por isso eu não consigo controlar a totalidade desse programa.
– Porque você quer algo assim?
– Você não entende de programação não é? Dentro de um computador eu posso ser Deus, porque eu tenho o poder de controlar cada coisa, cada vertente, tudo pode ser mudado por mim, até mesmo as regras. Mesmo que o sistema se torne inteligente e tenha a capacidade de burlar algumas das minhas regras, eu ainda o controlo. Eu sou Deus no meu próprio mundo, doutor. – o jovem debruçou-se sobre a mesa, chateado com o que estava dizendo. – Mas eu não estou no meu mundo.
– Você nunca vai conseguir isso. Isso é loucura, ninguém pode controlar o mundo. Ninguém pode sair da realidade.
– Sim, pode-se sim. O governo escondeu um globo muito importante para mim, um globo mágico, sim, pura magia, nada de tecnologia feita pelas mãos do homem ou esse programa chamado realidade. O globo é formado pela mesma matéria divina, é fruto da própria Origem e o governo o escondeu, porque jamais conseguiria usa-lo.
– Mas como você usaria esse globo e porque precisa de mim?
– Não seja egocêntrico, eu não preciso de você. Eu estou apenas matando o tempo enquanto procuro a informação no seu sistema. Afinal, há uma rede muito grande de arquivos criptografados e eu vou levar muito tempo para acessar todos os dados secretos do governo, digamos uns vinte minutos. – o paciente acomodou-se na cadeira. – Eu vou usar o meu poder para acessar o globo, tecnomágia, a união perfeita entre magia e tecnologia me fará transcender a um ponto em que eu poderei descartar esse software e me tornar um deus em meu próprio mundo, fugindo totalmente desse.
– ...
– Não fique assim, doutor. O senhor ajudou-me a localizar a pedra da lua, um dos maiores poderes escondidos aqui nessa terra. Você ajudou o futuro Deus desse mundo a alcançar a glória e talvez você seja recompensado um dia.
– Eu nunca ajudaria alguém como você, maníaco.
– Eu sinto muito doutor, mas você já me ajudou, me trazendo aqui e não vai poder me impedir. Porque eu estou aspirando a divindade e deuses jamais cometem erros. Tenho que começar a treinar desde já. Portanto, não posso cometer erros, não posso deixá-lo vivo.
O jovem arrumou sossegadamente os cabelos negros, sorrindo, como se toda a pressa fosse inútil. Estendeu a mão espalmada em direção ao pálido medico que chorava copiosamente. Houve uma explosão de números negros nos olhos do médico, houve luz por um segundo, depois, só havia o vermelho sobre o chão branco.
– #FF0000 por sobre o #FFFFFF. Perfeito. – o prisioneiro fechou os olhos, acessando todo o sistema de dados de todas as mentes ao seu redor. – deletar do sistema. Abrir portas.
O prisioneiro sorriu ao caminhar novamente pelos corredores brancos, agora machados de vermelho com o sangue daqueles que outrora vigiavam a principal prisão de segurança máxima da Nivarna.
Assobiou uma música enquanto caminhava lentamente para fora de sua masmorra de concreto, não havia pressa, pois em breve até mesmo o tempo lhe pareceria supérfluo. Seu cárcere de sombra, carne e números começava a chegar ao fim.

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