Mr. Я God
IV
IV
Lua negra
Amanda? Amanda se
foi...
As palavras ditas reverberam no
tempo e se tornam lembranças num punhado de anos, mas algumas são dolorosas
demais para serem lembradas de fato e se tornam apenas areia de uma
ampulheta... voltando e voltando, minuto a minuto.
Tal como Lilith, Amanda arrumou
suas malas para partir à terras distantes de seu paraíso particular, havia um
quê de paixão e desejo de conhecer outras terras em seu peito, coração e rosto.
Não havia lágrimas em seus olhos ao abandonar Carlos, porque haveria? Aquele
relacionamento era falho e ultrapassado.
Tal como Lilith, na total escuridão da alma ela partiu...
Sua última visão do Rio foi
marcada de um adeus apagado e sem memória, não doía em seu coração deixar o
amor que conhecera. Agora, Amanda conhecia terras do além-mar, da tão sonhada
Europa. Nisso, ela ganhou de Lilith que largou o paraíso pelo deserto.
O tempo passou e o amor que ela
achava que tinha por lá, se desmanchou. E o amor era de vidro e se quebrou,
assim como seu coração. Porque os homens são assim? Ela se perguntava, sem
lembrar que ela mesma partira o coração de alguém que a amava. Lembranças... No
coração de uma Lilith moderna que preferiu não lembrar.
Sozinha no bar, o copo de uísque
lhe fazia companhia, duas pedras de gelo, duas pernas que insinuavam desejo...
Ela chamava o pecado e ele a ouviu e veio ao seu encontro travestido de homem
decente e rico.
– Olá? O que faz uma jovem tão
bela desacompanhada?
A ébria Amanda se absteu de
responder. As respostas estavam ali afogadas no uísque, se desmanchando feito
gelo... Feito a vontade dela que já não era mais que água no álcool destilado.
– Olá – respondeu, por fim. –
Faço o mesmo que você.
– É mesmo? Ótimo...
Ele a segurou nos braços e a
levou até seu carro. Estava pronto para uma noite daquelas, regada a um pouco
de uísque, drogas ilícitas e caricias de uma bela mulher bêbada, drogada e
prostituída.
E assim, Lilith conheceu o Demônio.
Ela o beijava dentro do carro em
delírio pleno e profundo, não precisava se preocupar com nada, ele era rico e
tinha um motorista particular. Só precisava se preocupar em sentir prazer e dar
todo o seu corpo em troca de um pouquinho de afeto. Um “eu te amo” na hora do
gozo e nada mais.
Ele a acariciava com os lábios
descendo a sua pele tenra e macia abaixo do pescoço, Seus dedos fortes e
experientes rasgaram sua roupa mostrando o farto busto que ele mordiscava de
vez em quando.
Seminua ela desceu do carro e
subiu as escadas do condomínio. Os olhares de todos a encontravam a chamando de
nomes cruéis e preconceituosos. Ela era a prostituta do demônio agora, ela era
uma qualquer jogada na cama dele. Uma vadia desejosa de mais amor e sexo.
Seu preço era ainda mais vil que
dinheiro, ela se vendia por migalhas do afeto de um completo estranho que a
amarrava com algemas a cama e batia em seu rosto com a mesma ferocidade que
beijava e mordia suas coxas, nádegas e pernas.
– Por favor, pare. – Ela gritou
finalmente, mas porque ele a ouviria, porque alguém ouviria alguém na situação
dela?
– Você vai gostar, acredite.
As pernas de Amanda se debatiam
em tentativa de defesa, mas não era forte o bastante para impedir as mãos que a
tocavam e a toca que a marcava em toda extensão de seu corpo.
O demônio a desamarrou por um
instante em que ela pensou estar finalmente livre, mas os ledos enganos a
acompanhavam como uma forma de vingança universal pelos seus pecados. Por ter
se afastado de casa.
E pelo seu crime, a Lua negra amaldiçoada foi em seu prazer sublime...
Puxando seu cabelo, ele a
arrastou até a janela. Lá embaixo estava toda terra que ela desejou visitar. A
Inglaterra se mostrava ali embaixo impassível diante do sofrimento da moça,
fria como o contato da pele contra o vidro.
Ele afastou suas pernas e a
currou ali de frente ao mundo aberto como as pernas que já não suportavam o
próprio peso. A mão selvagem bateu sua cabeça contra o vidro, uma, duas, três,
até que o sangue escorresse pelas pernas e pelo rosto.
Dali a três dias, ela seria
encontrada em um beco qualquer jogada na lata de lixo. Amanda... Amanda se fora
como qualquer outra fada prostituída e bêbada. Usada e jogava fora como muitos
são.
E quando a manhã surgiu no horizonte, a Lua negra morria em sua
escuridão e dor.
Lilith estava morta.
Amanda? Quem é Amanda?
Ela se foi e não vai mais voltar.
Pi.Pi.Pi.Pi...
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