quarta-feira, 6 de junho de 2012

Lua Negra


Mr. Я God
IV
Lua negra

Amanda? Amanda se foi...
As palavras ditas reverberam no tempo e se tornam lembranças num punhado de anos, mas algumas são dolorosas demais para serem lembradas de fato e se tornam apenas areia de uma ampulheta... voltando e voltando, minuto a minuto.
Tal como Lilith, Amanda arrumou suas malas para partir à terras distantes de seu paraíso particular, havia um quê de paixão e desejo de conhecer outras terras em seu peito, coração e rosto. Não havia lágrimas em seus olhos ao abandonar Carlos, porque haveria? Aquele relacionamento era falho e ultrapassado.
Tal como Lilith, na total escuridão da alma ela partiu...
Sua última visão do Rio foi marcada de um adeus apagado e sem memória, não doía em seu coração deixar o amor que conhecera. Agora, Amanda conhecia terras do além-mar, da tão sonhada Europa. Nisso, ela ganhou de Lilith que largou o paraíso pelo deserto.
O tempo passou e o amor que ela achava que tinha por lá, se desmanchou. E o amor era de vidro e se quebrou, assim como seu coração. Porque os homens são assim? Ela se perguntava, sem lembrar que ela mesma partira o coração de alguém que a amava. Lembranças... No coração de uma Lilith moderna que preferiu não lembrar.
Sozinha no bar, o copo de uísque lhe fazia companhia, duas pedras de gelo, duas pernas que insinuavam desejo... Ela chamava o pecado e ele a ouviu e veio ao seu encontro travestido de homem decente e rico.
– Olá? O que faz uma jovem tão bela desacompanhada?
A ébria Amanda se absteu de responder. As respostas estavam ali afogadas no uísque, se desmanchando feito gelo... Feito a vontade dela que já não era mais que água no álcool destilado.
– Olá – respondeu, por fim. – Faço o mesmo que você.
– É mesmo? Ótimo...
Ele a segurou nos braços e a levou até seu carro. Estava pronto para uma noite daquelas, regada a um pouco de uísque, drogas ilícitas e caricias de uma bela mulher bêbada, drogada e prostituída.
E assim, Lilith conheceu o Demônio.
Ela o beijava dentro do carro em delírio pleno e profundo, não precisava se preocupar com nada, ele era rico e tinha um motorista particular. Só precisava se preocupar em sentir prazer e dar todo o seu corpo em troca de um pouquinho de afeto. Um “eu te amo” na hora do gozo e nada mais.
Ele a acariciava com os lábios descendo a sua pele tenra e macia abaixo do pescoço, Seus dedos fortes e experientes rasgaram sua roupa mostrando o farto busto que ele mordiscava de vez em quando.
Seminua ela desceu do carro e subiu as escadas do condomínio. Os olhares de todos a encontravam a chamando de nomes cruéis e preconceituosos. Ela era a prostituta do demônio agora, ela era uma qualquer jogada na cama dele. Uma vadia desejosa de mais amor e sexo.
Seu preço era ainda mais vil que dinheiro, ela se vendia por migalhas do afeto de um completo estranho que a amarrava com algemas a cama e batia em seu rosto com a mesma ferocidade que beijava e mordia suas coxas, nádegas e pernas.
– Por favor, pare. – Ela gritou finalmente, mas porque ele a ouviria, porque alguém ouviria alguém na situação dela?
– Você vai gostar, acredite.
As pernas de Amanda se debatiam em tentativa de defesa, mas não era forte o bastante para impedir as mãos que a tocavam e a toca que a marcava em toda extensão de seu corpo.
O demônio a desamarrou por um instante em que ela pensou estar finalmente livre, mas os ledos enganos a acompanhavam como uma forma de vingança universal pelos seus pecados. Por ter se afastado de casa.
E pelo seu crime, a Lua negra amaldiçoada foi em seu prazer sublime...
Puxando seu cabelo, ele a arrastou até a janela. Lá embaixo estava toda terra que ela desejou visitar. A Inglaterra se mostrava ali embaixo impassível diante do sofrimento da moça, fria como o contato da pele contra o vidro.
Ele afastou suas pernas e a currou ali de frente ao mundo aberto como as pernas que já não suportavam o próprio peso. A mão selvagem bateu sua cabeça contra o vidro, uma, duas, três, até que o sangue escorresse pelas pernas e pelo rosto.
Dali a três dias, ela seria encontrada em um beco qualquer jogada na lata de lixo. Amanda... Amanda se fora como qualquer outra fada prostituída e bêbada. Usada e jogava fora como muitos são.
E quando a manhã surgiu no horizonte, a Lua negra morria em sua escuridão e dor.
Lilith estava morta.
Amanda? Quem é Amanda?
Ela se foi e não vai mais voltar.

Pi.Pi.Pi.Pi...

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